segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sucesso Pessoal e Crise

Sucesso Pessoal e Crise
Quando o homem de sucesso se considera um fracasso
Renê Pereira Melo Vasconcellos

Recentes pesquisas realizadas nos EUA revelam uma baixa surpreendente na auto-confiança dos norte-americanos; os resultados apontam para uma constatação nacional que a "prosperidade" sempre crescente é coisa do passado. Por outro lado, os comentadores perguntam estupefatos: Como pode o povo americano ser tão pouco grato à sua boa fortuna?
De fato, falamos de uma nação rica! Este é o país onde há o maior desperdício de alimentos no mundo, são toneladas de comida jogadas no lixo diariamente, montante suficiente para aplacar a fome dos bolsões de miséria de toda a América Latina. Sem falar no alto padrão de vida pessoal, das casas confortáveis, dos carrões que tanto impressionam os "pobres latinos", suscitando comparações com as "nossas carroças". Enfim, um país próspero, que trás a tona a perplexidade dos pobres: afinal porque, o very nice dos americanos sofreu um abalo tão drástico?
Podemos entender um pouco esta questão trilhando a trajetória que orientou o comportamento e escolhas do povo americano, respaldadas em motivações econômicas fortíssimas, e em cujas bases neoliberais se construiu o mundo social daquele país: exemplo seguido pela banda capitalista do mundo. A filosofia neoliberal prega a chamada "religião econômica", da obtenção do sucesso econômico-financeiro a qualquer custo, com um fim determinado que conduziria a "terra prometida" da cultura de consumo.
E o homem americano obediente ao Grande deus-mercado se lançou na aventura do êxito pessoal, lutando para alcançar o sucesso numa sociedade capitalista selvagem, cega pela Cultura da Insensibilidade com traços de caráter marcadamente individualista, privilegiando o TER em detrimento do SER.
Trabalhando e vivendo em função do trabalho, empurrado pela crença do sucesso fundado na carreira e na profissão, o homem americano em sua busca de posição social e de um lugar confortável na cultura de consumo, cultivou um caráter baseado nas leis do mercado: EGO- ísta individualista e pasmem... Infeliz! Depois de galgar altas posições sociais e se confrontar com as regras da nova ordem mundial, este homem inicia um doloroso processo de questionamento quanto a validade da idéia do êxito, em meio a ansiedades e crise de identidade provocando com isto novos dilemas, mas sobretudo se recriando para novas possibilidades de vida genuína.
O caminho de Damasco que o americano médio está percorrendo, demonstra que a idolatria do mercado com suas mistificações fundamentadas na idéia de que a Identidade das pessoas é definida por sua ocupação, cargo ou a posição que ocupa no sistema, começa a cair por terra, pelo menos nos países desenvolvidos. Toda esta discussão serve de alerta ao povo brasileiro massacrado e iludido pelo redemoinho neoliberal que prega resultados, sucesso individual, enfim, a glória sob a égide do império horripilante da lógica da exclusão e da insensibilidade de muitos em relação a ela, já que para que haja privilegiados é necessário que existam as vítimas que são imoladas em sacríficio, que o deus-mercado, nestes tempos de globalização exige aos milhões.
Estas pesquisas1 , também realizadas na Inglaterra , nos revela pessoas que conseguiram tudo o que se dispuseram materialmente e surpreendentemente se encontraram no deserto ao invés da tão propalada "terra prometida" oferecida pelo deus-mercado; e o que é pior, na busca alucinante da glória se depararam com o demônio da auto-destruição. Que no dizer de Horney: "como qualquer outro impulso destrutivo a busca da glória, tem a qualidade da insaciabilidade. Ela deve operar enquanto as forças desconhecidas (para a própria pessoa) a estão impelindo.(...) A busca da glória pode ser como uma obsessão demoníaca, quase como um monstro, engolindo o indivíduo que a criou."
Por suposto, o mundo tem fome, e na medida em que supra suas necessidades inclusive na dimensão espiritual poderá re-direcionar sua trajetória no sentido de uma vida plena, de vida vivida em abundância, onde prevaleça o equilíbrio entre o trabalho, a família e outros elementos essenciais para uma vida genuinamente feliz com uma abertura solidária para o Outro: o excluído social, o sem-teto, o sem-terra, o sem-tudo, o sem-nada!!
1 Ray Pahl, Depois do Sucesso - Ansiedade e Identidade. São Paulo, Unesp, 1997.

Reneé Pereira Melo Vasconcellos é psicóloga, doutora em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca, Espanha

RELÓGIO DO TEMPO

RELÓGIO DO TEMPO- Como remi-lo
Wilson Araujo

Imagine que você tenha corrente em um Banco e a cada manhã você acorda com saldo de R$ 86.400,00, só que não lhe é permitido transferir o saldo ou parte dele para o dia posterior. Todas as noites o seu saldo é zerado, mesmo que você não tenha conseguido gasta-lo durante o dia.
O que você faria?
Acredito que a maioria gastaria cada centavo, é claro! Quem não gostaria de ser cliente desse Banco?
É interessante saber que todos os dias, temos creditados em nossa conta de vida 86.400 segundos. Todas as noites o saldo é debitado como perda. Não nos é permitido acumular este saldo para o dia seguinte.
Isso chama-se T E M P O!
Todas as manhãs a nossa conta do tempo é reiniciada. Todas as noites tudo se vai, assim como: Nossas paixões , nossas neuras, nossas preocupações, nossos desejos, nossas frustrações, nossas vitórias, nossos gritos, nossas traições, etc... Não há volta!
Isso me faz crer que é preciso gastar vivendo no presente o nosso crédito diário, investindo no que for melhor para cada um de nós, e o que seria melhor? O melhor ocorre quando estamos em paz com o mundo e conosco.
Acredito que a melhor forma de torrar esses créditos seria em: Saúde, tempo livre, com a família, com os amigos, em paz com o meio ambiente, com as pessoas, com a boa rotina do trabalho é claro!
O relógio está correndo! Faça o melhor para o seu dia-dia.
Para você perceber o valor de QUATRO ANOS, pergunte para qualquer jogador de futebol que tenha sido eliminado juntamente com seu país em uma Copa do Mundo.
Para você perceber o valor de UM ANO, pergunte a um estudante que perdeu um ano nos estudos.
Para você perceber o valor de UM MÊS, pergunte a uma mãe que esteja no oitavo mês de gestação.
Para você perceber o valor de UMA SEMANA, pergunte a Deus que fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo.
Para você perceber o valor de UM DIA, pergunte a algum dos mineiros soterrados no Chile.
Para você perceber o valor de UMA HORA, pergunte aos apaixonados que estão esperando para se encontrar.
Para você perceber o valor de UM MINUTO, pergunte a uma pessoa que perdeu a condução.
Para você perceber o valor de UM SEGUNDO, pergunte a uma pessoa que escapou de um acidente.
Para você perceber o valor de UM MILÉSIMO DE SEGUNDO, pergunte a um piloto de Fórmula 1
É preciso valorizar mais o tempo, cada momento, cada sorriso, cada abraço, cada aperto de mão.
Saber Remir o tempo é fundamental para se viver.
O tempo não espera por ninguém.
“Respondo que ele (O tempo) aprisiona, eu liberto
Que ele (o tempo) adormece as paixões, eu desperto" Nana Caymmi

O tempo passa, ele é soberano em sua forma
O tempo passa, ele é protagonista do viver
Viver não basta, somos soberanos em escolher
Viver não basta, somos protagonistas do querer.

Wilson C. DE Araujo Filho, 13 de julho de 2010.

"A mãe (ou o pai!) que leva o filho para a igreja, não vai buscá-lo na cadeia..."

Dr. Içami Tiba- Médico Psiquiatra

O palestrante é membro eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy. Conselheiro do Instituto Nacional de Capacitação e Educação para o Trabalho "Via de Acesso". Professor de cursos e workshops no Brasil e no Exterior. Em pesquisa realizada em março de 2004, pelo IBOPE, entre os psicólogos do Conselho Federal de Psicologia, os entrevistados colocaram o Dr. Içami Tiba como terceiro autor de referência e admiração - o primeiro nacional.

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.
2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, tv, etc...
3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.
4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.
5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.
6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente.
7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.
8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.
9. É preciso transmitir aos filhos a ideia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.
10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente.
11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.
12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga . A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.
13. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.
14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.
15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.
16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.
17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.
18. Muitas são desequilibradas ou mesmo loucas. Devem ser tratadas. (palavras dele).
19. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.
20. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.
21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.
22. Pais e mães não pode se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. 'Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador'. Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.
23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.
24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.
25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.
26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar.
Frase: "A mãe (ou o pai!) que leva o filho para a igreja, não vai buscá-lo na cadeia..."
Palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba, em Curitiba, 23/07/08.

Mistérios da água e o futuro de um recurso escasso

Mistérios da água e o futuro de um recurso escasso
Holly Hubbard Preston
A escassez de água está se tornando um problema de proporções globais. No mês passado(Julho), 2.000 agricultores na Índia foram presos por roubarem água; o governo regional da província espanhola da Catalunha anunciou que importará água por embarcações e trens a partir de maio para ser capaz de atender à demanda do verão; a Comissão de Água de Queensland, na Austrália, impôs aos seus consumidores as restrições mais rígidas até hoje ao consumo de água; e em Atlanta, no Estado da Geórgia, os moradores moveram um processo judicial contra a prefeitura devido aos problemas nas tubulações de água e nos sistema de esgoto da cidade.
Segundo o Instituto Mundial da Água, apenas 2,5% da água de superfície e subterrânea do planeta está acessível para o uso humano. Este recurso finito, mantido pelo ciclo hidrológico da Terra, é utilizado para tudo, desde as redes de água potável até os sistemas de saneamento, da agricultura aos processos industriais. Prejudicadas pelo uso excessivo, poluição e infra-estrutura ineficiente, bem como por fenômenos naturais como secas, as reservas de água para a humanidade estão chegando ao limite.
Em um relatório do mês passado, o banco de investimentos J.P. Morgan advertiu para o risco crescente que a falta de água representa para as companhias. O relatório incluiu dados do Instituto de Recursos Mundiais segundo os quais metade do planeta já enfrenta tensões referente à água, ou a deterioração qualitativa ou quantitativa dos recursos de água doce, ou mesmo a escassez de reservas.
O banco, ecoando numerosas entidades que acompanham essa questão, citou três fatores principais para o desequilíbrio entre oferta e demanda, incluindo o crescimento demográfico, a urbanização e a mudança climática.
Segundo Antoine Frerot, diretor-executivo da Veolia Water, em Paris, todas as tecnologias e processos necessários para resolver o problema diretamente - transformando água de esgotos em água potável - estão disponíveis. "Essas tecnologias já existem. E a água usada está lá onde precisamos dela, rio abaixo, após as cidades. Isso evitaria o uso excessivo de água doce", afirma Frerot.
As prefeituras estão usando água intensamente tratada, recuperada de esgotos, para suplementar as suas reservas, e em alguns casos até para fornecê-la como água potável. Frerot diz que a Veolia construiu e opera uma estação de tratamento de esgoto em Cingapura que recicla água cinzenta, transformando-a em água suficientemente pura para ser bebida, mas que é utilizada pelos fabricantes locais de semicondutores. A empresa conseguiu uma façanha similar em Windhoek, a capital da Namíbia, onde uma usina de reciclagem de água usada fornece água potável a cerca de 250 mil pessoas.
Segundo Frerot, o problema não é uma falta de capacidade, mas sim de interesse. Até recentemente, a preocupação pública com a sustentabilidade das reservas de água era relativamente pequena, a não ser em algumas regiões áridas do globo.
Mas em breve isto poderá mudar. Com base nos atuais níveis de consumo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) calcula que até 2030, cerca de 47% da população mundial viverá em áreas sujeitas a graves problemas de abastecimento de água. Para a OCDE, cuja sede fica em Paris, a situação representa "um dos maiores desafios ao desenvolvimento humano do início do século 21".
Uma situação desafiadora, mas repleta de oportunidades. No decorrer dos próximos 20 anos os Estados Unidos deverão investir US$ 1,2 trilhão na reparação e modernização da sua infra-estrutura de fornecimento de água.
Steve Albee, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, afirma que esse dinheiro será utilizado para financiar os mais diversos projetos, como aqueles para a recuperação da água de esgotos, a reutilização de usinas de dessalinização e o uso de membranas avançadas para filtragem. "Esse deverá ser um período de mudança drástica na maneira como desempenhamos a nossa missão", afirma Allbee.
Ele diz que, embora as usinas de dessalinização sejam uma parte da equação, os planos de reaproveitamento de água de esgoto oferecidos pela Veolia estão começando a "ser adotados em grande escala" em cidades como Las Vegas e Los Angeles. Comparado às usinas de dessalinização, a reutilização da água requer menos energia e dólares, explica Allbee.
"Nós fazemos isto há mais de 30 anos no norte de Virgínia - sei que é algo que pode ser feito com sucesso", diz ele.
A capacidade do setor para introduzir inovações com uma boa relação entre custo e benefício face a escassez iminente de água também está aumentando o interesse dos investidores. Stephen Hoffmann, economista especializado em recursos aquáticos e co-fundador dos Índices de Água Palisades (índices do mercado de ações elaborados para acompanhar o desempenho das empresas de tratamento e distribuição de água), afirma que "a visibilidade da indústria de água e o interesse por ela estão disparando".
Os índices Palisades acompanham a preocupação global com a água. Segundo Hoffmann, um dos índices aumentou mais de 145% de 2002 ao final do ano passado, e levou à criação de dois fundos de investimento em índice com cotas negociadas, o PowerShares Global Water e o PowerShares Water Resources.
O fato de fundos como esse terem sofrido um declínio de até 10%, após atingirem um pico, quando a demanda por água é tão grande, pode parecer um paradoxo, tendo em vista o aumento do valor da água.
Hoffmann, que atua no setor há mais de 25 anos, e que também administra uma firma de private equity, a WaterTech Capital, atribuiu este desempenho sofrível a um declínio amplo nos mercados globais de equity, o que, segundo ele, interrompeu temporariamente um aumento esperado. Mas ele sustenta que o fenômeno durará pouco tempo.
Hoffman estima que a água gere lucros anuais de US$ 400 bilhões, representando uma das maiores indústrias do planeta.
Segundo ele, um erro comum é alguns investidores iniciantes enxergarem a água como uma commodity semelhante ao petróleo. Embora ambos sejam recursos naturais, não existe nenhum mecanismo padronizado para determinar o preço do metro cúbico de água, ao contrário do que acontece com o barril de petróleo. Como conseqüência, os valores neste mercado muitas vezes têm um teto e variam baseados mais na vontade política do que na escassez, afirma Hoffmann.
Entre os fatores que afetam o preço estão a demanda, o transporte e os custos de tratamento, bem como os subsídios dos preços - que às vezes representam até 40% ou 50% do custo total.
"Se a água fosse uma commodity de verdade, como o petróleo, o preço dela seria mais semelhante ao custo marginal de fornecimento, incluindo a escassez e fatores de ordem ecológica", diz Hoffmann.
Embora algum dia a água possa ser comercializada como petróleo, por ora os especialistas concordam que é mais apropriado vê-la como um investimento de infra-estrutura. Sob esta ótica, os investidores contam com muitas opções que oferecem diversos graus de exposição à demanda global por este recurso.
Esse dinheiro é destinado a um amplo universo de setores preocupados com o abastecimento, que inclui empresas tradicionais de tratamento e distribuição de água, como a United Utilities, do Reino Unido, a Suez, da França, e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, no Brasil, bem como várias multinacionais, como a General Electric e a Dow Chemical, ambas com sede nos Estados Unidos.
Os investidores que se aprofundarem nesse setor encontrarão fabricantes de equipamentos de infra-estrutura como a Kurita Water Industries, em Tóquio, e a Geberit, na Suíça, bem como inovadores técnicos menos conhecidos. Neste ramo encontram-se companhias como a Halma, do Reino Unido, que desenvolve sensores capazes de detectar vazamentos em tubulações defeituosas de água e esgoto; a Aqua Dyne, da Austrália, que está comercializando um sistema de purificação de água recentemente adquirido da Global Power & Water dos Estados Unidos; e a H2O Innovation, do Canadá, uma criadora de tecnologias de resíduos ativados e bio-reatores de membrana para tratamento de água e esgoto.
E há ainda companhias integradas como a Veolia e a Hyflux, que ganham dinheiro em vários pontos ao longo da rede de serviços. A Hyflux, com sede em Cingapura, não só constrói e opera estações de tratamento de água, mas também desenvolve tecnologias, incluindo membranas de filtragem essenciais para processos de dessalinização e tratamento de esgoto.
De acordo com Sam Ong, vice-diretor-executivo e diretor de finanças da Hyflux, a empresa já é muito importante na China, onde possui cerca de 40 estações de tratamento. Na semana passada a companhia anunciou ter vencido a licitação para um projeto de dessalinização de água do mar por osmose reversa na Argélia.
A fim de maximizar os lucros gerados por tais concessões, a companhia deu um passo além em dezembro do ano passado, com a oferta pública de ações da Hyflux Water Trust na Bolsa de Valores de Cingapura.
O valor e a disponibilidade de concessões como as que são buscadas pela Hyflux podem crescer exponencialmente devido a dois fatos: medidas reguladoras mais rígidas e um reajuste dos preços.
Executivos da indústria, como Ong, vêem com bons olhos a adoção de medidas reguladoras mais rígidas para a água e o saneamento. Ele cita a China, onde atualmente 70% da água precisa ser tratada e 60% reciclada - algo que, segundo ele, estimula as concessões para novas estações de tratamento.
Quanto às mudanças de preços, após anos de consumo de água altamente subsidiado, prefeituras diversas, em regiões tão distintas como Osaka e Los Angeles, estão cogitando planos para a adoção de preços progressivos para a água e o saneamento. Embora exista uma tendência geral à manutenção do acesso universal aos serviços básicos de tratamento e distribuição de água a custo baixo ou nulo, todos os outros tipos de serviço - seja um sistema de irrigação de jardim doméstico ou de processamento de água para um fabricante de semicondutores - estarão sujeitos a taxas com base na quantidade de água consumida.
Um relatório publicado em março de 2007 pelo Instituto de Políticas da Terra revelou que as taxas municipais referentes à água aumentaram 27% em um período de cinco anos nos Estados Unidos, 32% no Reino Unido, 45% na Austrália, 50% na África do Sul e 58% no Canadá.
Companhias de ações públicas como o grupo Danone da França passaram a utilizar avançados processos de tratamento de água usada alguns anos atrás, como forma de reduzir os níveis de consumo, e, dessa forma, reduzir a sua vulnerabilidade a racionamentos de água potencialmente prejudiciais às suas atividades, enquanto ao mesmo tempo melhoraram a sua imagem corporativa.
De acordo com Jean-Pierre Rennaud, diretor de meio ambiente da Danone, atualmente todas as fábricas da empresa tratam a água que usaram. A companhia, uma grande produtora de laticínios e água engarrafada, já reduziu em 30% o seu consumo de água.
Meena Palaniappan, pesquisador e diretor de projetos do Pacific Institute, um grupo de pesquisas de Oakland, na Califórnia, afirma que os aumentos de preço - embora sejam complicados de se fazer cumprir - estão conquistando amplo apoio entre os elaboradores de políticas públicas, prefeituras e setores industriais. Os aumentos ajudam a cobrir os custos da infra-estrutura e promovem um maior envolvimento da iniciativa privada, além de, ao mesmo tempo, aumentarem a consciência da população em relação ao valor da água.
Citando a recente ruptura de uma tubulação central em Chicago, Palaniappan diz: "A menos que uma tubulação central estoure, as pessoas não pensam muito a respeito da água. É fácil não dar importância a ela, porque atualmente, para obtê-la, é só abrir a torneira".
Tradução: UOL
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