Sucesso Pessoal e Crise
Quando o homem de sucesso se considera um fracasso
Renê Pereira Melo Vasconcellos
Recentes pesquisas realizadas nos EUA revelam uma baixa surpreendente na auto-confiança dos norte-americanos; os resultados apontam para uma constatação nacional que a "prosperidade" sempre crescente é coisa do passado. Por outro lado, os comentadores perguntam estupefatos: Como pode o povo americano ser tão pouco grato à sua boa fortuna?
De fato, falamos de uma nação rica! Este é o país onde há o maior desperdício de alimentos no mundo, são toneladas de comida jogadas no lixo diariamente, montante suficiente para aplacar a fome dos bolsões de miséria de toda a América Latina. Sem falar no alto padrão de vida pessoal, das casas confortáveis, dos carrões que tanto impressionam os "pobres latinos", suscitando comparações com as "nossas carroças". Enfim, um país próspero, que trás a tona a perplexidade dos pobres: afinal porque, o very nice dos americanos sofreu um abalo tão drástico?
Podemos entender um pouco esta questão trilhando a trajetória que orientou o comportamento e escolhas do povo americano, respaldadas em motivações econômicas fortíssimas, e em cujas bases neoliberais se construiu o mundo social daquele país: exemplo seguido pela banda capitalista do mundo. A filosofia neoliberal prega a chamada "religião econômica", da obtenção do sucesso econômico-financeiro a qualquer custo, com um fim determinado que conduziria a "terra prometida" da cultura de consumo.
E o homem americano obediente ao Grande deus-mercado se lançou na aventura do êxito pessoal, lutando para alcançar o sucesso numa sociedade capitalista selvagem, cega pela Cultura da Insensibilidade com traços de caráter marcadamente individualista, privilegiando o TER em detrimento do SER.
Trabalhando e vivendo em função do trabalho, empurrado pela crença do sucesso fundado na carreira e na profissão, o homem americano em sua busca de posição social e de um lugar confortável na cultura de consumo, cultivou um caráter baseado nas leis do mercado: EGO- ísta individualista e pasmem... Infeliz! Depois de galgar altas posições sociais e se confrontar com as regras da nova ordem mundial, este homem inicia um doloroso processo de questionamento quanto a validade da idéia do êxito, em meio a ansiedades e crise de identidade provocando com isto novos dilemas, mas sobretudo se recriando para novas possibilidades de vida genuína.
O caminho de Damasco que o americano médio está percorrendo, demonstra que a idolatria do mercado com suas mistificações fundamentadas na idéia de que a Identidade das pessoas é definida por sua ocupação, cargo ou a posição que ocupa no sistema, começa a cair por terra, pelo menos nos países desenvolvidos. Toda esta discussão serve de alerta ao povo brasileiro massacrado e iludido pelo redemoinho neoliberal que prega resultados, sucesso individual, enfim, a glória sob a égide do império horripilante da lógica da exclusão e da insensibilidade de muitos em relação a ela, já que para que haja privilegiados é necessário que existam as vítimas que são imoladas em sacríficio, que o deus-mercado, nestes tempos de globalização exige aos milhões.
Estas pesquisas1 , também realizadas na Inglaterra , nos revela pessoas que conseguiram tudo o que se dispuseram materialmente e surpreendentemente se encontraram no deserto ao invés da tão propalada "terra prometida" oferecida pelo deus-mercado; e o que é pior, na busca alucinante da glória se depararam com o demônio da auto-destruição. Que no dizer de Horney: "como qualquer outro impulso destrutivo a busca da glória, tem a qualidade da insaciabilidade. Ela deve operar enquanto as forças desconhecidas (para a própria pessoa) a estão impelindo.(...) A busca da glória pode ser como uma obsessão demoníaca, quase como um monstro, engolindo o indivíduo que a criou."
Por suposto, o mundo tem fome, e na medida em que supra suas necessidades inclusive na dimensão espiritual poderá re-direcionar sua trajetória no sentido de uma vida plena, de vida vivida em abundância, onde prevaleça o equilíbrio entre o trabalho, a família e outros elementos essenciais para uma vida genuinamente feliz com uma abertura solidária para o Outro: o excluído social, o sem-teto, o sem-terra, o sem-tudo, o sem-nada!!
1 Ray Pahl, Depois do Sucesso - Ansiedade e Identidade. São Paulo, Unesp, 1997.
Reneé Pereira Melo Vasconcellos é psicóloga, doutora em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca, Espanha
Sociologia, filosofia, economia e muito mais. Uma visão pessoal sobre nosso mundo social.
sábado, 18 de setembro de 2010
Longevidade Não é Doença
VALE A PENA LER.
O OUTRO LADO DA MOEDA, OU O PONTO DE VISTA DAS SEGURADORAS, MAS DE QUALQUER FORMA É PREOCUPANTE.
Longevidade Não é Doença: Uma Estratégia Para o Seguro Saúde, por Stephen Kanitz
Os custos médicos e de saúde estão aumentando assustadoramente no mundo todo. Nos Estados Unidos crescem 15% ao ano e já correspondem a 15% do produto interno bruto (PIB). Um dia, a porcentagem será a mesma no Brasil.
Isso não significa que os médicos ganharão mais com este crescimento. Médicos que já recebem mal receberão cada vez menos e terão problemas cada vez mais difíceis em suas mãos para resolver.
Os honorários médicos representam cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina. O grosso dos dispêndios vai para hospitais, medicamentos, exames clínicos, serviços de enfermagens e seguros contra erros médicos. Culpar as empresas de seguro-saúde ou o governo por essa situação é não entender corretamente o problema.
E por não entender o problema, a maioria das medidas tem sido no sentido de manter uma constante pressão para redução de custos, o que só piora a situação. NINGUÉM está ganhando dinheiro nesta área crítica para o futuro da humanidade, diferentemente do que os muitos formadores de opinião acreditam. O cerne do problema é o conceito de seguro-saúde.
Seguro-saúde, seja governamental ou privado, não tem o mesmo sentido de antigamente, com os contínuos avanços da medicina. Antes, a maioria das doenças era incurável, por isso 50% dos custos médicos eram gastos nos últimos dois anos de vida, que era para custear a grande "encrenca" final e incurável. Na época, seguro-saúde significava poupar ao longo da vida para poder pagar pela doença.
Os avanços na medicina mudaram essa lógica do seguro-saúde. Hoje, 80% de toda a população conseguem safar-se das chamadas doenças sérias, caras e de longo tratamento como as oncológicas e as cardíacas. Ou seja, não haverá seguro-saúde que aguentará sucessivas doenças sérias e caras, mas que agora salvam o cliente/paciente. O famoso cálculo atuarial, onde todos pagam pelos tratamentos caríssimos de alguns, não vale mais. Todos nós teremos eventualmente um tratamento desse porte.
O problema que as empresas de seguro hoje em dia enfrentam, é que longevidade não é uma doença. A deterioração natural do corpo humano não é uma enfermidade passível de seguro, nem curável.
E quando se trata de postergar essa deterioração não estamos mais comprando saúde, e sim longevidade.
Longevidade e seguro-saúde são dois conceitos diferentes, e as empresas de seguro-saúde não serão obrigadas no futuro a nos garantir longevidade; algo que vem ocorrendo hoje.
Não estou sugerindo o fim do setor de seguro-saúde, mas, sim, alertando o consumidor e segurado que existe um novo componente na equação que não está sendo contemplado. Ou seja, a distinção entre garantir saúde para todo mundo e garantir longevidade para todos.
Na questão de longevidade, os gastos médicos são infinitos, diferentemente das doenças que são finitas e até há pouco tempo calculáveis por técnicas atuariais.
Quem quiser viver até os 80 anos simplesmente terá de pagar os exames preventivos necessários, tomar os remédios adequados e arcar com os gastos decorrentes. Nada mal nesse conceito, contanto que todos tenham sido corretamente avisados, permitindo uma poupança para a saúde adequada. Quem quiser viver até os 90 anos provavelmente terá de poupar mais nos anos produtivos, digamos em torno de R$ 150.000,00.
Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica, é uma questão financeira: o quanto você quer gastar do seu patrimônio ou do patrimônio social da coletividade para continuar vivo.
Infelizmente, ou felizmente, o Estado não pode nem tem os recursos para cuidar da longevidade de todos ao limite máximo que todos nós desejaríamos. Quem terá que decidir isso é você e sua família, não o Ministério da Saúde ou o plano de saúde.
Várias pessoas, preocupadas com a situação, já discutiram com seus médicos um limite fixo nesses gastos, para não comprometer as finanças da família num coma prolongado, por exemplo. Curiosamente, nem temos legislação que permita fazer isso.
No fundo precisamos definir bem claramente nos contratos de seguro-saúde o que é de fato saúde e o que é de fato compra de longevidade. Não é uma tarefa simples, mas também não é algo que possamos deixar de lado.
Se o governo não definir essa questão terá diante de si uma classe média que exigirá esses direitos adquiridos ilimitados, bem como teremos dezenas de companhias de seguro falidas sem condições de honrá-los.
Precisamos evitar os erros que outros países já cometeram, como nos Estados Unidos, que têm um Medical care com passivo superior a 20 trilhões de dólares, que a nova geração terá de pagar, e que a nova geração da Grécia já está rebelando-se para não pagar, e com razão.
Isso será uma mudança brutal de concepção e de expectativa em termos de saúde que exigirá uma enorme campanha educacional, e uma enorme mudança cultural em que clientes e pacientes terão de se conscientizar de que não poderão esperar que tenham assistência médica para combater a natural deterioração do corpo humano. Saúde é um direito constitucional, mas a longevidade não é. Longevidade é uma obrigação, não um direito.
Quando um consumidor compra uma viagem para a Disney, será que ele está sabendo que aquele dinheiro poderia lhe comprar cinco anos de vida? Ninguém nos avisou, e por quê?
Se deixarmos claro que degeneração do corpo é um problema caríssimo de se resolver, a população terá mais preocupação médica, com mais respeito aos problemas como fumo, sedentarismo e obesidade que contribuem no processo de degeneração.
Caso contrário, teremos uma conta impagável, ou pior, teremos empresários ou governos decidindo quem vai viver e quem vai morrer. Algo inadmissível numa democracia e num estado de direito.
O OUTRO LADO DA MOEDA, OU O PONTO DE VISTA DAS SEGURADORAS, MAS DE QUALQUER FORMA É PREOCUPANTE.
Longevidade Não é Doença: Uma Estratégia Para o Seguro Saúde, por Stephen Kanitz
Os custos médicos e de saúde estão aumentando assustadoramente no mundo todo. Nos Estados Unidos crescem 15% ao ano e já correspondem a 15% do produto interno bruto (PIB). Um dia, a porcentagem será a mesma no Brasil.
Isso não significa que os médicos ganharão mais com este crescimento. Médicos que já recebem mal receberão cada vez menos e terão problemas cada vez mais difíceis em suas mãos para resolver.
Os honorários médicos representam cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina. O grosso dos dispêndios vai para hospitais, medicamentos, exames clínicos, serviços de enfermagens e seguros contra erros médicos. Culpar as empresas de seguro-saúde ou o governo por essa situação é não entender corretamente o problema.
E por não entender o problema, a maioria das medidas tem sido no sentido de manter uma constante pressão para redução de custos, o que só piora a situação. NINGUÉM está ganhando dinheiro nesta área crítica para o futuro da humanidade, diferentemente do que os muitos formadores de opinião acreditam. O cerne do problema é o conceito de seguro-saúde.
Seguro-saúde, seja governamental ou privado, não tem o mesmo sentido de antigamente, com os contínuos avanços da medicina. Antes, a maioria das doenças era incurável, por isso 50% dos custos médicos eram gastos nos últimos dois anos de vida, que era para custear a grande "encrenca" final e incurável. Na época, seguro-saúde significava poupar ao longo da vida para poder pagar pela doença.
Os avanços na medicina mudaram essa lógica do seguro-saúde. Hoje, 80% de toda a população conseguem safar-se das chamadas doenças sérias, caras e de longo tratamento como as oncológicas e as cardíacas. Ou seja, não haverá seguro-saúde que aguentará sucessivas doenças sérias e caras, mas que agora salvam o cliente/paciente. O famoso cálculo atuarial, onde todos pagam pelos tratamentos caríssimos de alguns, não vale mais. Todos nós teremos eventualmente um tratamento desse porte.
O problema que as empresas de seguro hoje em dia enfrentam, é que longevidade não é uma doença. A deterioração natural do corpo humano não é uma enfermidade passível de seguro, nem curável.
E quando se trata de postergar essa deterioração não estamos mais comprando saúde, e sim longevidade.
Longevidade e seguro-saúde são dois conceitos diferentes, e as empresas de seguro-saúde não serão obrigadas no futuro a nos garantir longevidade; algo que vem ocorrendo hoje.
Não estou sugerindo o fim do setor de seguro-saúde, mas, sim, alertando o consumidor e segurado que existe um novo componente na equação que não está sendo contemplado. Ou seja, a distinção entre garantir saúde para todo mundo e garantir longevidade para todos.
Na questão de longevidade, os gastos médicos são infinitos, diferentemente das doenças que são finitas e até há pouco tempo calculáveis por técnicas atuariais.
Quem quiser viver até os 80 anos simplesmente terá de pagar os exames preventivos necessários, tomar os remédios adequados e arcar com os gastos decorrentes. Nada mal nesse conceito, contanto que todos tenham sido corretamente avisados, permitindo uma poupança para a saúde adequada. Quem quiser viver até os 90 anos provavelmente terá de poupar mais nos anos produtivos, digamos em torno de R$ 150.000,00.
Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica, é uma questão financeira: o quanto você quer gastar do seu patrimônio ou do patrimônio social da coletividade para continuar vivo.
Infelizmente, ou felizmente, o Estado não pode nem tem os recursos para cuidar da longevidade de todos ao limite máximo que todos nós desejaríamos. Quem terá que decidir isso é você e sua família, não o Ministério da Saúde ou o plano de saúde.
Várias pessoas, preocupadas com a situação, já discutiram com seus médicos um limite fixo nesses gastos, para não comprometer as finanças da família num coma prolongado, por exemplo. Curiosamente, nem temos legislação que permita fazer isso.
No fundo precisamos definir bem claramente nos contratos de seguro-saúde o que é de fato saúde e o que é de fato compra de longevidade. Não é uma tarefa simples, mas também não é algo que possamos deixar de lado.
Se o governo não definir essa questão terá diante de si uma classe média que exigirá esses direitos adquiridos ilimitados, bem como teremos dezenas de companhias de seguro falidas sem condições de honrá-los.
Precisamos evitar os erros que outros países já cometeram, como nos Estados Unidos, que têm um Medical care com passivo superior a 20 trilhões de dólares, que a nova geração terá de pagar, e que a nova geração da Grécia já está rebelando-se para não pagar, e com razão.
Isso será uma mudança brutal de concepção e de expectativa em termos de saúde que exigirá uma enorme campanha educacional, e uma enorme mudança cultural em que clientes e pacientes terão de se conscientizar de que não poderão esperar que tenham assistência médica para combater a natural deterioração do corpo humano. Saúde é um direito constitucional, mas a longevidade não é. Longevidade é uma obrigação, não um direito.
Quando um consumidor compra uma viagem para a Disney, será que ele está sabendo que aquele dinheiro poderia lhe comprar cinco anos de vida? Ninguém nos avisou, e por quê?
Se deixarmos claro que degeneração do corpo é um problema caríssimo de se resolver, a população terá mais preocupação médica, com mais respeito aos problemas como fumo, sedentarismo e obesidade que contribuem no processo de degeneração.
Caso contrário, teremos uma conta impagável, ou pior, teremos empresários ou governos decidindo quem vai viver e quem vai morrer. Algo inadmissível numa democracia e num estado de direito.
Amigos
AMIGOS
Vinicius de Moraes
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho
deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem desaparecidos todos os meus amores,
mas enlouqueceria se desaparecessem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
Vinicius de Moraes
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho
deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem desaparecidos todos os meus amores,
mas enlouqueceria se desaparecessem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
Haverá vida fora do Google?
Haverá vida fora do Google?
15 de setembro de 2010 21h50
Ethevaldo Siqueira
O texto abaixo é um resumo jornalístico da palestra proferida no dia 7 de setembro pelo presidente do Google, Eric Schmidt, keynote speaker da IFA 2010, em Berlim.
Em sua fase inicial, a internet mostrava o quanto o computador poderia fazer por todos nós. Hoje penso um pouco diferente, pois o celular – em especial o smartphone – multiplicou por um bilhão o poder do computador.
O que aconteceu após a explosão da telefonia celular no mundo foi tão impressionante que eu passei a considerar a mobilidade em primeiro lugar. Sim, mobility, first. A expansão da internet – e, por consequência a expansão do Google – não tem ocorrido por causa dos computadores, mas porque os celulares mais avançados, os smartphones de hoje, já são tão poderosos quanto os verdadeiros computadores. E funcionam como terminais remotos conectados a supercomputadores.
O que chamamos de cloud computing equivale, na prática, a um imenso supercomputador. E graças aos smartphones, a informação, o vídeo ou a música estão disponíveis para milhões. A informação e o entretenimento estão diante de cada um de nós, ao alcance de nossa mão.
Países desenvolvidos como a Alemanha já experimentam o que eu chamo de conectividade pervasiva. Imaginem, agora, o que significará a próxima geração de celulares, com a tecnologia LTE (Long Term Evolution ou Evolução de Longo Prazo), a 50 Megabits/segundo. No passado, eu sonhava com 1 Mbps, que chegou. De lá para cá, nunca mais fiquei satisfeito. Mas daqui a pouco vamos ter 50 Mbps. Com 50 Mbps, teremos vídeo, real-time streaming, Video on Demand (VoD), download de muita imagem e som.
Não se trata apenas de um salto causado pelos smartphones. Nem só pelas redes. Nem só pelas informações que estão por trás de tudo. É muito mais, porque resulta da soma de tudo isso, da ação simultânea das empresas, dos smartphones, das redes de banda larga e da massa descomunal de informações armazenadas num conjunto de supercomputadores.
A rede gigantesca
A internet alcançou dimensões incríveis. Expandiu-se tanto pelo mundo que hoje chega a conectar mais de 35 bilhões de dispositivos ou aparelhos de todos os tipos, como celulares inteligentes, laptops, desktops, televisores, equipamentos instalados residências, empresas e em carros.
Nosso principal terminal acesso ao supercomputador ou à nuvem é o smartphone. Ele é uma espécie de computador de mão, que envia perguntas e pedidos de informações ao supercomputador. Este, por sua vez, manda de volta a resposta ao nosso pedido, com texto, foto, música ou um vídeo.
Caminhando aqui em Berlim, resolvi ir à catedral católica de St. Hedwig, apontei o smartphone para a igreja e obtive todas as informações sobre essa catedral, que ela foi iniciada no século 15 e terminada em 1905 e muito mais.
Posso fazer isso em outras grandes cidades da Europa, e de outros continentes. O que vivi aqui em Berlim é uma incrível experiência. Acho até que é uma forma de inteligência artificial. E esse é um campo em que os computadores têm um grande desempenho.
O mundo ao alcance da mão
Os aspectos humanos desse cenário já eram pressentidos há alguns anos. Lembro-me de Bill Gates predizer em 1999, numa Comdex, que teríamos no futuro empresas de computação (como o Google), que nos permitiriam ter toda informação do mundo na ponta de nossos dedos, ao alcance de cada ser humano. Exatamente o que está acontecendo agora.
Não é algo fantástico? Hoje podemos saber praticamente tudo. Qualquer coisa que você precisa saber está disponível, aqui e agora. Essa é a grande mudança. Pense no que significa isso: podemos ouvir, falar e pensar sobre qualquer assunto ou ponto do conhecimento. E tudo isso é, em última instância, resultado da sinergia e da combinação de dispositivos móveis, de redes e de supercomputadores.
O Google quer ser um auxiliar de todo ser humano, para ajudá-lo a fazer as coisas mais rapidamente, porque o tempo é precioso, vale muito. Time matters.
Fazemos centenas de melhorias nos processos de busca a cada ano. Vocês, usuários, vão conhecendo e usando tudo isso, gradativamente. Vão descobrindo novos caminhos, como a tradução automática de textos e de voz. E sabemos que a pesquisa de informação, a busca, é uma necessidade pessoal, de cada usuário, seja para completar um texto, para enviar um e-mail, para localizar uma personalidade histórica, para saber o que está acontecendo em determinado setor da economia ou da cultura.
O que vem por aí
A próxima etapa é a busca automática. O smartphone, que é, na prática, o computador que está em meu bolso, sabe que estou em Berlim e já me dá um conjunto básico de informações úteis, me passa coisas que eu, possivelmente, não saiba mas que precisaria saber.
Outro aspecto da busca é nos dar o que realmente importa. Como, por exemplo, saber como está o tempo, se vai chover ou fazer sol, frio ou calor. A busca precisa, cada vez mais, focalizar naquilo que as pessoas, realmente, querem ou precisam fazer. Ou estão interessadas em saber. O Google quer ser essa ponte entre as pessoas.
Uma de cada três questões propostas nos smartphones se referem ao lugar onde estou, ao meu entorno, à minha localização, a coisas ou pessoas que estão próximas de mim. Por todas essas utilidades e aplicações, é que os celulares se expandem numa velocidade superior a qualquer outra produto ou serviço no mundo.
A força do Android
Vocês sabiam que, a cada dia, são ativados 200 mil smartphones com o sistema operacional Android? E não se trata de apenas um modelo de telefone celular ou dispositivo. Já são mais de 60 aparelhos, 59 operadoras em 49 países.
Vejam o caso do YouTube. É um fenômeno mundial de popularidade, que alcança 2 bilhões de visitas por dia. E mais: a cada minuto são postadas 24 horas de vídeo no YouTube.
Neste ponto de sua palestra, Eric Schmidt chamou dois de seus especialistas para demonstrações. O primeiro foi Hugo Barra, diretor do Google. No palco, ele faz uma demonstração de reconhecimento de voz com seu smartphone.
Mais surpreendente ainda é o novo serviço de busca musical por reconhecimento de voz. Hugo Barra pede a seu smartphone que toque uma música (Just Dance) de Lady Gaga. Em segundos, a música está sendo ouvida no celular.
Outra aplicação de grande utilidade que também utiliza o reconhecimento e o comando de voz é a da ligação automática, demonstrada por Barra, ao pedir ao seu celular: “Chame o Hotel Grand Hyatt, em Berlim”. Em segundos, o hotel atende.
Por fim, a demonstração de tradução automática de uma conversa entre um turista e um lojista – cada um deles falando apenas a sua língua-mãe, alemão ou inglês. Tudo funciona perfeitamente.
A segunda pessoa a ser chamada ao palco para fazer demonstrações foi a gerente de marketing de produto do Google, Brittany Bohneh, que deu mais informações sobre a Google TV, a televisão conectada que será lançada até o final do ano nos Estados Unidos.
A Google TV é uma plataforma de software, formada por um set-top box da Logitech, um televisor Sony com Blu-ray player e uma Dish box.
É um dos melhores exemplos de associação entre a internet e a televisão. Entre seus recursos, ela permite a busca de filmes e shows, oferecendo ao usuário a possibilidade de assistir a esses programas de TV paga ou pela web. A Google TV vai mais longe, entretanto, permitindo que o telespectador possa assistir a vídeos com o recurso do Flash, ter acesso a notícias, enviar e-mails e personalizar sua tela inicial com seus canais e sites favoritos.
Ferramentas mágicas
Após as demonstrações, Eric Schmidt retoma sua apresentação. “O que acabamos ver aqui era ficção científica há poucos anos. Aliás, a própria web já produziu o que eu chamo de internet disruption.
A internet abre tudo, escancara tudo, mostra os players, seus concorrentes, os preços, as ofertas, as opiniões positivas ou negativas, a avaliação de clientes e competidores, as queixas, os elogios.
Nesse sentido, a internet assusta os grupos dominantes (incumbentes). Um produto de um concorrente relativamente pequeno pode alcançar a visibilidade de 1 bilhão de pessoas. E a cada dia mais pessoas estão desejando e precisando dessas informações.
Uma idade de ouro
Essa ação disruptiva (avassaladora) da internet e seus benefícios –ao mesmo tempo destruidores e criativos – vão continuar. Eu afirmo, no entanto, que estamos vivendo a véspera de uma espécie de Idade de Ouro.
Por que uso essa expressão? Porque essa Golden Age traz inovações formidáveis – verdadeiros breakthroughs. As ciências da computação estão acelerando o conhecimento e a disciplina humana. Isso não significa que os cientistas e a população não tenham preocupações e problemas sérios: como o aquecimento global, terrorismo, a falta de transparência financeira – que são, fundamentalmente, problemas de informação.
Imaginem agora um futuro bem próximo. Em breve, vocês não se esquecerão de nada. Ou, por outras palavras: vocês não terão que lembrar-se de nada. Por quê? Porque o computador relembrará vocês de tudo.
Hoje ninguém se perde, mesmo estando num local ou país totalmente desconhecido. Você sempre pode saber exatamente onde está, que caminhos seguir para chegar a um destino, numa cidade ou país estranho.
Tudo em todas as línguas
Graças às telecomunicações e às novas tecnologias digitais, assistimos a uma verdadeira explosão de telemetria em tempo real. Ela é, também, resultado de uma fantástica disponibilidade de informação, de terabytes e mais terabytes.
As informações sobre o planeta – Google Earth e Google Maps – colocam hoje o máximo de informações sobre a Terra ao alcance de qualquer pessoa em qualquer língua. Há pessoas que gostam mais do Google Earth. E isso tem sentido, porque se trata de nosso planeta, nosso único planeta. Outras gostam mais do Google Maps.
Diante dessa explosão do conteúdo, dessa avalanche de informação, muita gente se pergunta: que devo fazer, ou melhor, o que estou fazendo?
Minha resposta: faça o que é mais relevante. Selecione o que, realmente, vale a pena ver ou fazer. Em lugar de desperdiçar seu tempo vendo TV, desperdice-o navegando na internet, onde vocês têm muito maior variedade de assuntos.
A boa notícia é que a internet não interessa apenas nem diz respeito exclusivamente ao futuro das elites. Essa tecnologia se tornará acessível a cada pessoa, a cada habitante deste planeta. O número de internautas já ultrapassa 1 bilhão de pessoas. Em menos de cinco anos, calculo, serão 3 ou 4 bilhões. Isso é uma mudança tremenda, em termos de acesso à informação.
Esse é o futuro que interessa de perto ao Google. E, é claro, interessa ainda mais às pessoas, porque diz respeito à sua informação, ao seu conhecimento, às suas intuições, aos seus sentimentos, às suas ideias. Essa internet do futuro, estou certo, falará ou cuidará cada vez mais acerca de pessoas, da sociedade, dos problemas humanos.
_
Assinar:
Postagens (Atom)