sábado, 18 de setembro de 2010

Haverá vida fora do Google?


Haverá vida fora do Google?
15 de setembro de 2010 21h50
Ethevaldo Siqueira
O texto abaixo é um resumo jornalístico da palestra proferida no dia 7 de setembro pelo presidente do Google, Eric Schmidt, keynote speaker da IFA 2010, em Berlim.
Em sua fase inicial, a internet mostrava o quanto o computador poderia fazer por todos nós. Hoje penso um pouco diferente, pois o celular – em especial o smartphone – multiplicou por um bilhão o poder do computador.
O que aconteceu após a explosão da telefonia celular no mundo foi tão impressionante que eu passei a considerar a mobilidade em primeiro lugar. Sim, mobility, first. A expansão da internet – e, por consequência a expansão do Google – não tem ocorrido por causa dos computadores, mas porque os celulares mais avançados, os smartphones de hoje, já são tão poderosos quanto os verdadeiros computadores. E funcionam como terminais remotos conectados a supercomputadores.
O que chamamos de cloud computing equivale, na prática, a um imenso supercomputador. E graças aos smartphones, a informação, o vídeo ou a música estão disponíveis para milhões. A informação e o entretenimento estão diante de cada um de nós, ao alcance de nossa mão.
Países desenvolvidos como a Alemanha já experimentam o que eu chamo de conectividade pervasiva. Imaginem, agora, o que significará a próxima geração de celulares, com a tecnologia LTE (Long Term Evolution ou Evolução de Longo Prazo), a 50 Megabits/segundo. No passado, eu sonhava com 1 Mbps, que chegou. De lá para cá, nunca mais fiquei satisfeito. Mas daqui a pouco vamos ter 50 Mbps. Com 50 Mbps, teremos vídeo, real-time streaming, Video on Demand (VoD), download de muita imagem e som.
Não se trata apenas de um salto causado pelos smartphones. Nem só pelas redes. Nem só pelas informações que estão por trás de tudo. É muito mais, porque resulta da soma de tudo isso, da ação simultânea das empresas, dos smartphones, das redes de banda larga e da massa descomunal de informações armazenadas num conjunto de supercomputadores.
A rede gigantesca
A internet alcançou dimensões incríveis. Expandiu-se tanto pelo mundo que hoje chega a conectar mais de 35 bilhões de dispositivos ou aparelhos de todos os tipos, como celulares inteligentes, laptops, desktops, televisores, equipamentos instalados residências, empresas e em carros.
Nosso principal terminal acesso ao supercomputador ou à nuvem é o smartphone. Ele é uma espécie de computador de mão, que envia perguntas e pedidos de informações ao supercomputador. Este, por sua vez, manda de volta a resposta ao nosso pedido, com texto, foto, música ou um vídeo.
Caminhando aqui em Berlim, resolvi ir à catedral católica de St. Hedwig, apontei o smartphone para a igreja e obtive todas as informações sobre essa catedral, que ela foi iniciada no século 15 e terminada em 1905 e muito mais.
Posso fazer isso em outras grandes cidades da Europa, e de outros continentes. O que vivi aqui em Berlim é uma incrível experiência. Acho até que é uma forma de inteligência artificial. E esse é um campo em que os computadores têm um grande desempenho.
O mundo ao alcance da mão
Os aspectos humanos desse cenário já eram pressentidos há alguns anos. Lembro-me de Bill Gates predizer em 1999, numa Comdex, que teríamos no futuro empresas de computação (como o Google), que nos permitiriam ter toda informação do mundo na ponta de nossos dedos, ao alcance de cada ser humano. Exatamente o que está acontecendo agora.
Não é algo fantástico? Hoje podemos saber praticamente tudo. Qualquer coisa que você precisa saber está disponível, aqui e agora. Essa é a grande mudança. Pense no que significa isso: podemos ouvir, falar e pensar sobre qualquer assunto ou ponto do conhecimento. E tudo isso é, em última instância, resultado da sinergia e da combinação de dispositivos móveis, de redes e de supercomputadores.
O Google quer ser um auxiliar de todo ser humano, para ajudá-lo a fazer as coisas mais rapidamente, porque o tempo é precioso, vale muito. Time matters.
Fazemos centenas de melhorias nos processos de busca a cada ano. Vocês, usuários, vão conhecendo e usando tudo isso, gradativamente. Vão descobrindo novos caminhos, como a tradução automática de textos e de voz. E sabemos que a pesquisa de informação, a busca, é uma necessidade pessoal, de cada usuário, seja para completar um texto, para enviar um e-mail, para localizar uma personalidade histórica, para saber o que está acontecendo em determinado setor da economia ou da cultura.

O que vem por aí
A próxima etapa é a busca automática. O smartphone, que é, na prática, o computador que está em meu bolso, sabe que estou em Berlim e já me dá um conjunto básico de informações úteis, me passa coisas que eu, possivelmente, não saiba mas que precisaria saber.
Outro aspecto da busca é nos dar o que realmente importa. Como, por exemplo, saber como está o tempo, se vai chover ou fazer sol, frio ou calor. A busca precisa, cada vez mais, focalizar naquilo que as pessoas, realmente, querem ou precisam fazer. Ou estão interessadas em saber. O Google quer ser essa ponte entre as pessoas.
Uma de cada três questões propostas nos smartphones se referem ao lugar onde estou, ao meu entorno, à minha localização, a coisas ou pessoas que estão próximas de mim. Por todas essas utilidades e aplicações, é que os celulares se expandem numa velocidade superior a qualquer outra produto ou serviço no mundo.

A força do Android
Vocês sabiam que, a cada dia, são ativados 200 mil smartphones com o sistema operacional Android? E não se trata de apenas um modelo de telefone celular ou dispositivo. Já são mais de 60 aparelhos, 59 operadoras em 49 países.
Vejam o caso do YouTube. É um fenômeno mundial de popularidade, que alcança 2 bilhões de visitas por dia. E mais: a cada minuto são postadas 24 horas de vídeo no YouTube.
Neste ponto de sua palestra, Eric Schmidt chamou dois de seus especialistas para demonstrações. O primeiro foi Hugo Barra, diretor do Google. No palco, ele faz uma demonstração de reconhecimento de voz com seu smartphone.
Mais surpreendente ainda é o novo serviço de busca musical por reconhecimento de voz. Hugo Barra pede a seu smartphone que toque uma música (Just Dance) de Lady Gaga. Em segundos, a música está sendo ouvida no celular.
Outra aplicação de grande utilidade que também utiliza o reconhecimento e o comando de voz é a da ligação automática, demonstrada por Barra, ao pedir ao seu celular: “Chame o Hotel Grand Hyatt, em Berlim”. Em segundos, o hotel atende.
Por fim, a demonstração de tradução automática de uma conversa entre um turista e um lojista – cada um deles falando apenas a sua língua-mãe, alemão ou inglês. Tudo funciona perfeitamente.
A segunda pessoa a ser chamada ao palco para fazer demonstrações foi a gerente de marketing de produto do Google, Brittany Bohneh, que deu mais informações sobre a Google TV, a televisão conectada que será lançada até o final do ano nos Estados Unidos.
A Google TV é uma plataforma de software, formada por um set-top box da Logitech, um televisor Sony com Blu-ray player e uma Dish box.
É um dos melhores exemplos de associação entre a internet e a televisão. Entre seus recursos, ela permite a busca de filmes e shows, oferecendo ao usuário a possibilidade de assistir a esses programas de TV paga ou pela web. A Google TV vai mais longe, entretanto, permitindo que o telespectador possa assistir a vídeos com o recurso do Flash, ter acesso a notícias, enviar e-mails e personalizar sua tela inicial com seus canais e sites favoritos.
Ferramentas mágicas
Após as demonstrações, Eric Schmidt retoma sua apresentação. “O que acabamos ver aqui era ficção científica há poucos anos. Aliás, a própria web já produziu o que eu chamo de internet disruption.
A internet abre tudo, escancara tudo, mostra os players, seus concorrentes, os preços, as ofertas, as opiniões positivas ou negativas, a avaliação de clientes e competidores, as queixas, os elogios.
Nesse sentido, a internet assusta os grupos dominantes (incumbentes). Um produto de um concorrente relativamente pequeno pode alcançar a visibilidade de 1 bilhão de pessoas. E a cada dia mais pessoas estão desejando e precisando dessas informações.
Uma idade de ouro
Essa ação disruptiva (avassaladora) da internet e seus benefícios –ao mesmo tempo destruidores e criativos – vão continuar. Eu afirmo, no entanto, que estamos vivendo a véspera de uma espécie de Idade de Ouro.
Por que uso essa expressão? Porque essa Golden Age traz inovações formidáveis – verdadeiros breakthroughs. As ciências da computação estão acelerando o conhecimento e a disciplina humana. Isso não significa que os cientistas e a população não tenham preocupações e problemas sérios: como o aquecimento global, terrorismo, a falta de transparência financeira – que são, fundamentalmente, problemas de informação.
Imaginem agora um futuro bem próximo. Em breve, vocês não se esquecerão de nada. Ou, por outras palavras: vocês não terão que lembrar-se de nada. Por quê? Porque o computador relembrará vocês de tudo.
Hoje ninguém se perde, mesmo estando num local ou país totalmente desconhecido. Você sempre pode saber exatamente onde está, que caminhos seguir para chegar a um destino, numa cidade ou país estranho.
Tudo em todas as línguas
Graças às telecomunicações e às novas tecnologias digitais, assistimos a uma verdadeira explosão de telemetria em tempo real. Ela é, também, resultado de uma fantástica disponibilidade de informação, de terabytes e mais terabytes.
As informações sobre o planeta – Google Earth e Google Maps – colocam hoje o máximo de informações sobre a Terra ao alcance de qualquer pessoa em qualquer língua. Há pessoas que gostam mais do Google Earth. E isso tem sentido, porque se trata de nosso planeta, nosso único planeta. Outras gostam mais do Google Maps.
Diante dessa explosão do conteúdo, dessa avalanche de informação, muita gente se pergunta: que devo fazer, ou melhor, o que estou fazendo?
Minha resposta: faça o que é mais relevante. Selecione o que, realmente, vale a pena ver ou fazer. Em lugar de desperdiçar seu tempo vendo TV, desperdice-o navegando na internet, onde vocês têm muito maior variedade de assuntos.
A boa notícia é que a internet não interessa apenas nem diz respeito exclusivamente ao futuro das elites. Essa tecnologia se tornará acessível a cada pessoa, a cada habitante deste planeta. O número de internautas já ultrapassa 1 bilhão de pessoas. Em menos de cinco anos, calculo, serão 3 ou 4 bilhões. Isso é uma mudança tremenda, em termos de acesso à informação.
Esse é o futuro que interessa de perto ao Google. E, é claro, interessa ainda mais às pessoas, porque diz respeito à sua informação, ao seu conhecimento, às suas intuições, aos seus sentimentos, às suas ideias. Essa internet do futuro, estou certo, falará ou cuidará cada vez mais acerca de pessoas, da sociedade, dos problemas humanos.


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