"Um 'novo PIB' em gestação" - Jornal Estado de S.Paulo Publicado em: 15/05/2009 - 17:08 Especialistas buscam uma reformulação da medida de riqueza que leve em conta ambiente e qualidade de vidaAndrea Vialli Após anos de críticas à forma usada para medir o Produto Interno Bruto (PIB), organismos internacionais devem receber no próximo mês um relatório com sugestões para mudar os parâmetros de cálculo do desempenho econômico dos países. Em época de crise financeira e desaceleração da economia no mundo, a proposta é elaborar um indicador que, além de somar a atividade econômica, considere as condições de vida da população e índices relacionados a sustentabilidade e preservação de recursos naturais. "A crise colocou em xeque muitos conceitos, entre eles o de que crescimento econômico se traduz em bem-estar", avalia Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. Uma das ideias de revisão do PIB está em andamento desde meados do ano passado. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, encomendou a um grupo de 27 renomados especialistas, entre eles os ganhadores do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz (2001) e Amartya Sen (1998), uma reforma da métrica. Matemáticos, estatísticos, economistas ambientais e estudiosos da pobreza reforçam o time, que ficou conhecido como Comissão Stiglitz-Sen. A comissão trabalha em três frentes. Uma delas busca atualizar o PIB padrão, de modo que a medida se torne mais abrangente e mais relevante para os formuladores de políticas públicas. Outra tenta incorporar novas medidas de sustentabilidade ambiental aos dados e, assim, mensurar o impacto da economia sobre os ecossistemas. Por último, o grupo trabalha na criação de novos indicadores para avaliar qualidade de vida e bem-estar. As críticas ao PIB remontam à década de 1960 e, pela primeira vez desde o pós-guerra, ganha força a proposta de medir o progresso econômico em novas bases. O relatório que está sendo preparado deve ser entregue à Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). "Vai ser uma nova forma de fazer a contabilidade das nações, que permitirá que os resultados do desempenho econômico sejam medidos de uma maneira melhor que a atual. O PIB que conhecemos é precário", afirma José Eli da Veiga, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e autor do livro Desenvolvimento Sustentável - O Desafio do Século XXI. MODELO ULTRAPASSADO As críticas ao PIB como medida do crescimento econômico existem desde que ele passou a ser amplamente utilizado pelos países, no Pós-Guerra. Um de seus formuladores, o economista Simon Kuznets, chegou a admitir as limitações da métrica na década de 1970. Em 2004, um encontro internacional de estatísticos organizado pela OCDE lançou as bases para que o movimento anti-PIB, hoje conhecido como Beyound GDP (Além do PIB, em inglês) se disseminasse pelo mundo e culminasse no pedido de Sarkozy aos economistas. "A discussão é irreversível e palpável porque é preciso encontrar instrumentos mais eficientes para medir o progresso e o nível de bem-estar dos países, que levem em consideração temas urgentes como saúde, pobreza, mudanças climáticas e a dilapidação dos recursos naturais", avalia Young, do Instituto Ethos. A economista americana Hazel Henderson levantou críticas ao modelo do PIB há pelo menos 20 anos. Segundo ela, o critério da riqueza per capita disfarça as desigualdades vigentes - pois a métrica do PIB apenas soma o resultado da atividade econômica sem levar em conta as chamadas externalidades - os custos social e ambiental envolvidos na produção da riqueza por um país. Um exemplo claro do que fala Henderson é o caso das grandes catástrofes e desastres ambientais: hoje, eles acabam sendo positivos para o crescimento do PIB, porque a reconstrução das regiões afetadas por tais eventos extremos movimenta o setor de serviços e, consequentemente, gera empregos. Outro exemplo é a natureza do negócio. Uma mineradora pode contribuir para o PIB com a extração de minério, mesmo às custas da degradação dos recursos naturais, o que pode comprometer para sempre uma cidade e as pessoas que vivem ali. Além disso, o PIB só contabiliza o fluxo de mercadorias, e não os estoques de bens já produzidos. Além da França, o Reino Unido também reforçou o coro sobre a necessidade de uma nova métrica. No entanto, ainda deve levar algum tempo para que esses novos parâmetros sejam assimilados e adotados como padrão. "É muito difícil prever. A ONU terá de assumir a elaboração dos indicadores. A expectativa é de que o relatório da Comissão Stiglitz-Sen desencadeie um processo nas organizações internacionais", explica Veiga. QUEM É QUEM NA ECONOMIA SUSTENTÁVEL Nicholas Georgescu-Roegen: Economista romeno (1906-1994), ficou conhecido por aplicar à economia o conceito da entropia, emprestado da termodinâmica. No livro A Lei da Entropia e o Processo Econômico, de 1971, Georgescu-Roegen mostrou que o sistema econômico não era um motoperpétuo, que alimenta a si mesmo de forma circular, sem perdas, e sim um sistema que transforma recursos naturais em rejeitos que não podem mais ser utilizados E.F.Schumacher: Economista britânico (1911-1977), publicou em 1973 o livro Small is Beautiful, no qual chama a atenção para os perigos do crescimento acima das possibilidades de regeneração. Entusiasta da energia limpa, alertou a Europa sobre os riscos da dependência dos combustíveis fósseis Herman Daly: Economista e ecólogo americano, professor da Universidade de Maryland. Defende a teoria do Estado Estacionário, em que o crescimento econômico exponencial deve ser suplantado pela qualidade do desenvolvimento. Susan Andrews, Psicóloga e Antropóloga, que emocionou o público numa palestra, no lançamento do IRBEM, em São Paulo, falou sobre o expressivo aumento de estudos para entender o que traz felicidade para as pessoas e sobre a busca de outras nações, como o Butão, o Canadá e a Inglaterra, para implantar políticas públicas que atendam a esse propósito. Susan comentou que recentes estudos científicos concluíram que o que mais impacta a felicidade das pessoas é a relação afetiva e de amizade com as outras pessoas - o “companheirismo impacta mais no bem-estar do que a renda”. |
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segunda-feira, 18 de maio de 2009
Um Novo PIB
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